TIBÚRCIO E O FANTASMA


O progresso ainda não havia chegado em Vicentinópolis, as ruas eram de terra, por onde trafegavam poucos veículos, os postes de madeira com lâmpadas comuns produziam claridade suficiente apenas para iluminar uma pequena área ao seu redor, dessa forma as ruas ficavam escuras e, portanto, sujeitas a todo tipo de brincadeiras, já que o vício e o crime praticamente inexistiam na localidade.

Era nesse ambiente silencioso e tranqüilo que Tibúrcio, 12 anos, adorava brincar e sua brincadeira predileta era assustar as pessoas, às vezes contando histórias de almas penadas, às vezes esperando alguém em um ponto escuro da rua para saltar sobre ele como um capeta, pulando, gritando e quase matando o pobre coitado de susto.

Naquela noite ele estava especialmente agitado e louco para ver as expressões de medo e susto que suas vítimas iriam fazer, ele não sentia o menor remorso, adorava assustar os amigos e vizinhos mas, como sempre ocorre nestes casos, detestava ser assustado, perdia a calma e queria logo bater em quem ousasse assustá-lo.

Começou reunindo alguns amigos para contar-lhes o conhecido caso da mão que se movia no escuro à procura de alguém para agarrar. Essa história terminava com Tibúrcio assustando os pobres colegas, simulando um ataque da mão sobre um deles. Eram muitos os casos assustadores e ele era um mestre na arte da interpretação e do suspense. Tibúrcio ia dormir com um sorriso nos lábios, ele amava assustar os outros.

Mas seus amigos já não suportavam mais serem assustados sem poder assustar e decidiram que era chegada a hora daquele amigo aprender uma lição, para que nunca mais assustasse ninguém. Planejaram tudo com antecedência e selecionaram um rapaz que ele não conhecia para o papel de fantasma. Escolheram uma noite assustadora, que parecia anteceder uma tempestade, mas na última hora descobriram que um dos colegas revelara o plano para o amigo.

Tibúrcio caminhava a passos largos, com um sorriso nos lábios, soube a tempo do plano dos amigos e agora, que já estava prevenido, não se assustaria. Quando estava a meio quarteirão de sua casa, em um ponto escuro entre dois postes, surgiu um ser envolto em fortes luzes e flutuando a cerca de dez centímetros do solo.
 
Apesar de avisado, nosso amigo engoliu em seco, impressionado com a perfeição daquela aparição. O ser luminoso, então, lhe disse: - Não assuste as pessoas, Tibúrcio, isto não é brincadeira e alguém pode morrer por causa disso, quem avisa amigo é...

Tibúrcio pensou em empurrá-lo só para vê-lo balançar-se, porque certamente ele estava amarrado a algum galho de árvore, mas suas mãos passaram pelo corpo imaterial do ser e seu sangue gelou nas veias, o que deveria ser uma risada transformou-se em um grito estranho. A aparição, então, se desfez no ar e Tibúrcio conseguiu, finalmente, correr.

Seus amigos jamais souberam o que aconteceu, nem entenderam porque Tibúrcio estava tão mudado, não queria mais assustar ninguém, mas ele sabia que se continuasse a assustar os amigos, seu próximo encontro com o fantasma poderia ser ainda mais assustador...


Lupércio Mundim


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