TELHADO
DE VIDRO
A televisão brasileira é, sem qualquer
contestação, uma das melhores do mundo, apresenta
noticiários e programas informativos e culturais sérios
e competentes. Mas, como ocorre também em outros países,
produz alguns programas populares que são um hino à
perda de tempo e ao besteirol. O pior é que esses absurdos
são mostrados pelo mundo afora em diversos idiomas, representando nossa cultura.
Mas é preciso tomar certos cuidados ao se tecer uma crítica,
para evitar que atinjamos o que temos de melhor. Vejo muitas
pessoas inteligentes e cultas criticando a Rede Globo pelos
programas de baixo nível que produz, mas se não
tivéssemos essa rede no Brasil teríamos que assistir
a espetáculos populareescos degradantes e de gosto duvidoso.
Se a Globo produz programas considerados abaixo do nível
desejado, o que é verdade, imagine as demais redes brasileiras.
Raramente sintonizo outra emissora, exceto alguns canais da
tv a cabo, mas quando o faço fico impressionado com os
programas que são exibidos nos finais de semana em horário
nobre.
A questão da qualidade na televisão é complexa,
uma rede de tv é uma empresa e, por conseguinte, deve
dar lucros, para que isso ocorra é importante criar uma
programação que atinja o gosto do povo, da grande
maioria. E, infelizmente, o povo gosta de apresentadores que,
de modo geral, deixam muito a desejar.
O grande desafio, portanto, é como criar um programa
de qualidade voltado para a massa e utilizando um desses apresentadores
populares. Um obstáculo quase impossível de se
superar.
A solução adotada pela Rede Globo foi produzir
programas populares para o horário nobre e outros, do
mais alto nível, como o Globo Ecologia e o Globo Repórter
, para serem exibidos em outros horários. É uma
solução razoável tendo em vista a necessidade de audiência e de lucros.
Portanto, antes de criticarmos alguma coisa, vejamos o que ela
tem de positivo a nos oferecer e quais são as alternativas
existentes àquela que vamos criticar.
Meu pai sempre me dizia que é preciso tomar muito cuidado
ao criticar alguém ou alguma coisa, porque a crítica
é como uma pedra lançada no telhado de vidro de
um vizinho, causa um grande estrago, e que jamais devemos esquecer
que nosso telhado também é de vidro e poderá
ser atacado da mesma forma. O maior defeito de um crítico
é exatamente esquecer esse detalhe ao lançar suas
pedras.
Algumas pessoas não aceitam ser criticadas, ficam profundamente
irritadas quando isto acontece. Eu gosto de ser criticado, desde
que a crítica seja construtiva, pois isto me permitirá
evoluir a partir da correção de meus erros. Esse
tipo de julgamento não pode ser comparado ao exemplo
da pedra no telhado de vidro e sim ao ato de se dar a mão
para auxiliar uma pessoa, tomando-se cuidado para não
feri-la.
Lupércio Mundim