Honestidade

          Aos vinte e poucos anos de idade fui trabalhar em uma empresa do ramo de tintas em Campinas, um bairro afastado de minha cidade, Goiânia, como Caixa Central. Saía ali pelas quatro horas da tarde para fechar pessoalmente os caixas de cada uma das quatro filiais e chegava na matriz, que na verdade era um armazém grande que ficava numa área com poucas residências e muitas lojas e depósitos que fechavam as portas às dezoito horas, hora em que, com um revólver 38 ao meu lado, sozinho no armazém, eu começava a contar todos os valores para fechar o Caixa Central.

          Em minha primeira noite surgiu uma diferença a mais de duzentos reais, que eram muito dinheiro na época. Fiquei até as dez horas da noite tentando resolver o problema sem sucesso, então telefonei para o meu patrão e disse a ele que meu caixa estava passando aquele valor, apesar dos caixas das lojas terem fechado normalmente. Ele me perguntou se eu tinha certeza disto e eu confirmei, então ele me pediu que levasse o dinheiro para ele no dia seguinte, o que eu fiz de bom grado, após depositar os demais valores.

          Este fato se repetia com alguma frequência, sempre valores redondos, mas diferentes entre si, e eu continuei fazendo o que o patrão me recomendou: levando o dinheiro para ele na manhã seguinte. Aquilo me causava um certo desconforto, parecia que eu não era um bom Caixa Central, mas pelo menos eu estava fazendo o que era correto e recomendado.

          No dia da minha despedida da empresa, cinco anos depois, o patrão aproximou-se de mim e disse baixinho: “Sabe aquele dinheiro que ficava sempre sobrando no seu caixa”? Acenei que sim, curioso. Ele me disse: “Era eu que o colocava lá em um momento em que você não estava olhando, para testar a sua honestidade, me perdoe, mas eu precisava ter certeza...

          Eu fiquei pasmo e de imediato lembrei-me das palavras de meu querido pai, que dizia: “Não existe ninguém 99% honesto no mundo, ou se é 100% honesto ou se é desonesto! Simples assim”.

Lupércio Mundim