Graças a Deus ainda existem muitas pessoas preocupadas mais em servir do que serem servidas neste nosso planeta e entre essas pessoas eu destaco duas categorias: os radioamadores e os escoteiros ou chefes-escoteiros. Eu tive a felicidade de participar destas duas fraternidades mundiais em uma determinada época da minha vida, por isto posso falar deles (não falo de mim) com conhecimento de causa: são pessoas realmente muito especiais.
Vou falar primeiro dos radioamadores. Imagine que ainda existem muitas localidades como aldeias e tribos indígenas, onde não existe nenhum meio de comunicação a não ser um radio-amador e imagine que existem pessoas que passam seu tempo livre ao lado de aparelhos de rádio, esperando uma oportunidade para servir, estes são os radioamadores. Eles gastam com equipamentos e antenas e não recebem nada além da gratidão dos que foram ajudados por eles e o sentimento de dever cumprido, comum a todos eles.
Cito aqui um fato ocorrido comigo, eu estava ao lado do meu rádio, aguardando algum chamado, quando escutei alguém repetindo a mensagem: "emergência, alguém de Goiânia responda por favor!" Respondi imediatamente dizendo que era de Goiânia, era um enfermeiro de uma pequena aldeia no Estado do Amazonas (não vou citar os nomes por uma questão de ética) dizendo que uma moradora da aldeia estava entre a vida e a morte e que seu médico estava passando as férias em Goiânia, passando-me o nome e o telefone do médico (na aldeia não havia telefones).
Liguei para o médico imediatamente, passei para ele todas as informações fornecidas pelo enfermeiro e o médico receitou um tratamento de emergência para tentar salvar a vida de sua cliente. Passei o tratamento para o enfermeiro, que agradeceu e se despediu. Passados cerca de vinte dias recebi um cartão postal de uma mulher do Amazonas, agradecendo-me por ter salvo a sua vida. Fiquei muito feliz por saber que ela estava viva, mas não senti como se tivesse salvo sua vida, apenas que havia cumprido o meu dever. Nem um milímetro além disto.
Agora vou falar sobre os escoteiros. Imagine que ainda existem pessoas que dedicam seu tempo livre para transformar meninos e meninas em cidadãos conscientes, que atuarão na sociedade como fontes multiplicadoras do ensino da mais alta qualidade que receberam, que inclui desde noções de sobrevivência na selva até a responsabilidade de cada um com o meio ambiente, passando por educação cívica e aulas de segurança no lar e fora dele. Estas pessoas são os chefes-escoteiros, que auxiliam nos trabalhos dos Grupos Escoteiros, que recebem centenas de crianças que, geralmente, ainda não receberam a menor instrução nas matérias mencionadas neste parágrafo.
O tratamento dado a estas crianças é tão carinhoso e respeitoso, que mesmo depois de décadas sem nos vermos, somos tratados como pais quando nos encontramos com nossos antigos escoteiros ou lobinhos. Outro dia fui abraçado por uma moça linda quando atravessava uma praça e até me assustei, pensando que era um assalto, porque sou um velho baixinho e não costumo ser abraçado por meninas tão bonitas, mas era uma antiga lobinha que, mesmo depois de tantos anos sem nos encontrar, ainda nutria um enorme carinho e respeito por mim. Foi maravilhoso, foi como encontrar uma filhinha que eu não via há muitos anos, um momento simplesmente inesquecível.
Texto por Lupércio Mundim |