Dádivas
Dá-me o eterno
porque o muito esgota-se no hoje,
no agora que o vento sopra,
como o foi no ontem,
em outonos amarelados
que não se perdem nas minhas telas.
Dá-me o sempre
porque pouca é a cor do nunca
cuja fumaça insiste
em mesclar de nódoas
o meu azul.
Dá-me o sim
porque a intransigência de tantos "não"
fizeram surgir o jamais
que busca corromper
os alicerces da paz e da esperança,
como fizeram acabrunharem-se
os horizontes
e acabaram por cobrir de lágrimas
as pistas que não mais permitem
o decolar dos sonhos.
Dá-me a voz precisa e sem rodeios
para que os conceitos se harmonizem,
os vãos se completem
e o verniz possa, enfim, bloquear
o que não brotou para ser ceifado.
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