Desdém
Disseste adeus
àquele amargor incoveniente
que tentava embaralhar tua visão,
àquela taça de vinho
que degustavas sem prazer algum,
àquele resto de sonho impossível,
àquele medo de violar
o que julgavas sagrado.
Disseste adeus
às noites que escondiam do luar
o teu eterno desejo de amar,
à tantas tardes que esperaste
um regressar...
Disseste adeus
ao teto embolorado pela negligência
que te abrigou sem calor,
ao chão por onde andaste aos tropeços,
ao velho divã, testemunha dos teus ais.
Disseste adeus ao passado
que registrou a tua história
de tão pouco sorrisos,
tantas desilusões, tantos senões!
Despida do medo das amarras,
abraçaste o teu horizonte
com garra felina.
Nada deixate! Nada levaste!
O poente te acolheu,
desencantou o feitiço,
aparou as tuas arestas,
lustrou o teu brilho
e te fez a bela das tardes.
E sempre haverá alguém
tentando entender
esse teu raro olhar de desdém.
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