O CRIME DE UM ESTILINGUE
Aquele sabiá que todo dia,
religiosamente pontual,
vem, triste e só, pousar na ramaria
do jasmineiro em flôr do meu quintal,
no mundo alado é o rei da melodia,
o maestro sublime e genial,
o mago, o feiticeiro da harmonia,
famoso concertista nacional.
Mas um dia, o estilingue de um malvado
roubou-lhe a companheira estremecida.
Agora ele anda por aí, coitado,
chorando aquele amor que se findou;
e desde então,
com a alma confrangida,
emudeceu e nunca mais cantou...