A VOLTA AO BRASIL
Só quando nós conhecemos um país do primeiro mundo é que enxergamos as vergonhas nacionais. Saindo de Roma, depois de uma escala em Dakar (que calor horroroso) cheguei ao Rio de Janeiro e, no carro do meu pai, nos dirigimos a Copacabana pela Avenida Brasil... Só então fui reparar como era feia e fedorenta aquela parte da cidade, credo!
Engraçado foi que meu pai não me reconheceu no aeroporto, eu estava com o cabelo batendo nas costas (afinal eu me considerava hippie) e tive que chamar a sua atenção para que ele me visse. Além de cabeludo e estava carregando um cachorrinho italiano (de minha prima) e muitos pacotes e casacos (saí de –10º para +40º). O pior é que naquela época a gente descia do avião a dezenas de metros do aeroporto e tínhamos que fazer o percurso a pé, ufa!
O lado paterno de minha família havia me deixado uma grande herança musical, todos tocavam algum instrumento (meu pai tocava sax em mi bemol) e meu avo era maestro da banda da cidade. Minha irmã tocava violão e eu, que sempre fui maluco por música, não tocava instrumento algum. Bem que meus pais tentaram, do piano ao acordeom, mas aqueles instrumentos não tinham nada a ver comigo. Mas eu precisava fazer alguma coisa. Na banda havia tocado tubinha, mas e agora? Foi então que um amigo do internato (o oito, que era baterista) sugeriu: Porque não tenta a bateria? É fácil e super legal...
Enchi a cabeça do meu pai até ele concordar em me comprar uma bateria, aí o oito foi lá em casa e me ensinou o básico da coisa. Logo arrumei dois amigos e formamos uma banda de rock, demais! Uma pena que meus pais e seus vizinhos não apreciassem nossos ensaios... Logo depois começamos a tocar em festas e as garotas ficavam nossas fãs, era ótimo!
Algum tempo depois de meu retorno ao Brasil meu pai foi chamada a uma nova missão, a agência do banco em Goiânia estava para ser fechada, a única salvação seria o retorno de meu pai para a Capital de Goiás. Nesta época, final da década de sessenta, Goiânia já era uma boa cidade de se morar (quando chegamos em Goiânia em 1954 não tinha eletricidade nem água e esgoto). Arrumamos nossa mudança e retornamos ao nosso querido estado de Goiás, sentindo deixar a Cidade Maravilhosa.
Pensava que chegaria em Goiânia e encontraria todos os meus velhos amigos da década de cinqüenta, desta forma não sentiria tanto esta mudança. O Lourival Lousa Júnior eu nem cheguei a ver, o Paulo vejo algumas vezes na rua, outros amigos se mudaram de Goiânia, mas o Marinho (Mário de Andrade Filho) salvou a situação. Além de grande amigo de todas as horas ainda foi meu orientador, mostrando-me o caminho luminoso do espiritismo.
O Marinho me convidou a participar de um clube beneficente formado apenas por jovens, O Clube dos Castores, apoiado pelo Lions Club (Quando o Clube dos Castores encerrou suas atividades o Lions criou o Leo Clube). Este clube era um barato, tínhamos reuniões semanais, quando planejávamos nossas ações beneficentes, e essas reuniões eram muito animadas. Em uma reunião o Marinho me perguntou: você conhece algum bom baterista? Eu segurei minha alegria e lhe perguntei qual o motivo de sua indagação e ele me respondeu que o clube queria montar um conjunto para animar suas festas. Eu revelei minha experiência como baterista e foi aquela festa. Ficou marcado para, no dia seguinte, eu conhecer o outro membro do conjunto, Luciano, que tocava piano (o Marinho tocava guitarra e baixo).
Fiquei meio temeroso, pois eu não conhecia esse tal de Luciano e minha área era o rock, agora iria entrar em uma banda que tinha piano? Em vez de rock tocaríamos mpb, bossa nova e jazz? Será que isto daria certo? Além do mais eu vendera minha velha bateria no Rio por não ter como trazê-la. Como eu faria para dizer ao Marinho que não queria participar deste conjunto que se chamaria Os Castores? Minha primeira banda havia se chamado The Beloveds (os amados)...
Lupércio Mundim
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