OS CASTORES
Mas tudo mudou quando eu conheci o Luciano, uma figura fora de série, e consegui tomar emprestada a bateria de seu irmão, que não a usava mais (mais tarde vim a comprar esta boa bateria). Começamos os ensaios e, após alguns retoques, estávamos prontos para o que der e vier. No início da década de setenta não havia conjuntos amadores ou profissionais em Goiânia, esse foi um dos motivos de nosso sucesso.
Começamos a tocar em festas e logo o Lions Clube nos descobriu e passou a nos convidar para tocar em suas reuniões. Era ótimo porque nos intervalos bebíamos do melhor uísque e devorávamos desde salgados até lautos jantares. Foi nessa época que começamos a tornar o conjunto mais profissional. Começamos ensaiando um repertório de cerca de setenta músicas que chegaria bem rápido a duzentas músicas. Depois fazíamos ensaios só de mpb, bossa nova ou jazz, melhorando nosso desempenho e treinando solos.
Foi aí que a TV Goiânia (atual TV Anhanguera / Globo) nos descobriu e nos convidou para fazer um programa semanal chamado de AS DICAS. Era um programa em que nos intervalos de nossas músicas uma apresentadora mui sexy oferecia informações diversas aos jovens. Este programa durou alguns anos e foi uma época em que ficamos conhecidos em todo o estado.
Certa vez eu passava pela Avenida Universitária a uns cem km/h, com o carro lotado de instrumentos musicais, quando um guarda me parou e ameaçou me multar. Pedi a ele que não me multasse, disse que estava correndo porque estava super atrasado (uma verdadeira mania minha naqueles tempos) para uma festa onde ia tocar. O guarda me reparou melhor, fez uma cara de espanto e disse: você faz parte daquele conjunto OS CASTORES, não é? Você é o baixinho baterista! Nossa, vocês são demais! Pode ir prá festa, mas antes me dá um autógrafo! Foi realmente sensacional. E eu que não queria entrar pro conjunto!
Já estava tudo muito bom, eu, o Marinho e o Luciano nos divertíamos prá valer, quando a TV Rádio Clube (concorrente da TV Goiânia) nos convidou para tocar em um programa semanal às quintas-feiras (o outro era às quartas-feiras). O programa já existia, chamava-se PASSARELA SOCIAL, comandado pela colunista social mais badalada da cidade, Maria José. Topamos na hora, seria realmente demais!
Vendo nosso desempenho na TV a colunista tratou de nos convidar para animar as mais sensacionais festas da Capital. O Uísque era de primeira e os camarões eram tão grandes que precisavam ser partidos ao meio para serem degustados. Foi, sem sombra de dúvida, a melhor época para OS CASTORES, mas eu enfrentava um problema sério. O Luciano tinha as duas bordas laterais do piano e em uma ele colocava o cinzeiro e em outra o copo, o Marinho conseguiu uma mesinha onde colocava seus comes e bebes, mas eu, na bateria, não tinha onde por nada, ficava morto de vontade de fumar um cigarrinho (antigo vício), de comer e beber alguma coisa, mas não era possível, pois eu ficava cercado pelos taróis, surdos e pratos da bateria. O jeito foi pedir ajuda a um marceneiro, que parafusou duas hastes laterais no bumbo e nestas hastes dois suportes que ladeavam os surdos. Pronto, já podia matar minhas vontades.
Com o casamento do Marinho com sua amada Vera a banda começou a parar. Marinho agora tinha novas responsabilidades e não podia mais ficar na farra todos os dias. Uma pena. Logo depois eu me casei com Soledade, com quem vivi quinze anos de muito amor e alegrias. Era o fim dos castores. Depois de dez anos sem tocar, um dia nos reunimos na casa do Marinho e botamos prá quebrar! Foi sensacional, uns riam, outros choravam, que saudade...
Lupércio Mundim
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